quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O nosso diamante em bruto


Junto vos deixo uma reportagem que o MaisFutebol fez sobre o nosso menino da frente. Cissé vai dando cada vez mais nas vistas, especialmente depois do golo ao Benfica e Hapoel, enquanto cresce a olhos vistos no Calhabé. É caso para dizer: segurem-no (com um contrato longo)!

"O nome é de craque e é a esse patamar que Salim Cissé quer atingir. Sem pressas, apesar da amostra que deixou em cerca de uma dezena de jogos. Quem o viu chegar, na pré-época, proveniente de um clube amador da Série D italiana, dificilmente poderia prever um impacto tão marcante e uma afirmação tão rápida. 

O jovem (faz 20 anos na véspera de Natal), natural de Kindia, na Guiné-Conacri, destronou Edinho na frente de ataque da Académica. É, em conjunto com o internacional português Wilson Eduardo, o melhor marcador da equipa, com três golos, e rubricou uma série de exibições que o tornam, para já, numa das relevações da Liga.

Maisfutebol foi tentar perceber um pouco mais da estória de vida deste prodígio precoce que está a crescer a olhos vistos no plantel de Pedro Emanuel. Um relato na primeira pessoa, carregado de simplicidade e humildade em todos os momentos, sobretudo nos mais difíceis.

Na demanda de uma vida melhor: adeus África

«Vim para Itália como muitos jovens de África, onde toda a gente sonha vir para a Europa, em busca de uma nova vida. Cheguei com nigerianos, camaroneses¿ e apresentei-me no centro de acolhimento de estrangeiros», conta, colocando-se num ponto decisivo desta narrativa: no centro, conhece Franco Anzalone, diretor do Arezzo, cuja ação irá mudar para sempre o rumo da sua vida. 

«Considero-o como um pai, deu-me tudo, sobretudo a nível humano. Acreditou em mim, ajudou-me, e, como era dirigente do clube, depois de me ver jogar assim na brincadeira, disse-me: vou ajudar-te e levar-te para a minha equioa. Vais trabalhar, progredir, e veremos o que dá.»

Antes disso, Salim seguia a rotina de emigrante. Vivia de biscates, mas, à noite, já era uma estrela nos treinos da malta do bairro. «Depois do trabalho, num relvado alugado, juntava-me com os amigos perto do centro. Ele viu-me, perguntou-me como vim para a Europa, expliquei-lhe, e percebeu que eu queria muito jogar.»

«Eu saía do centro para ir treinar e jogar numa sexta ou sétima divisão, com pessoal que vinha do trabalho e ia treinar a partir das 20 horas, e também aproveitava para comer porque a comida no centro era pouca para mim. Treinava com eles, mas sentia que podia chegar ao profissionalismo.»

Cissé fazia essencialmente limpezas, dando uma ajuda a alguns amigos sul-americanos, que lhe davam boleia. «Ganhava ao dia. Limpava quartos, fazias as camas, deixando tudo pronto para os turistas que iam depois ocupar os apartamentos. Também ajudava a carregar as malas.» Por vezes, calhava-lhe uma gorjeta. Humildemente, recusava. 

Arezzo inscreveu-o como refugiado

Nesta fase, como os outros miúdos africanos, trabalhava e treinava à noite. Foi o período mais duro. Quando assinou pelo Arezzo dedicou-se em exclusivo ao futebol. «O Franco disse-me que tinha de deixar-me disso, que na Europa jogar futebol é uma profissão e que se eu me dedicasse tudo ia correr bem.»

«Como procurava uma vida melhor, empenhei-me a fundo. No início, foi difícil conseguir obter a autorização para jogar, porque tinha o visto de residência, mas, pela Lei italiana, só depois de residir um ano no país é que um extracomunitário pode jogar. Mas o Arezzo mexeu-se e conseguiram a licença, evocando o estatuto de refugiado. Quando é assim, é imediato.»

A época corre-lhe bem, com 13 golos em 27 jogos, e a imprensa local começa a exaltar-lhe os feitos. «Ouvi falar de muitos clubes, como o Chievo, Sampdoria, Unidese... mas só a Académica avançou. Havia também o problema dos extracomunitários, só podia assinar por uma equipa da Série A, embora tivesse muitos interessados na Série B.» 

O resto, remete para o início desta reportagem, e deixa a pergunta no ar: até onde irá chegar Salim Cissé, depois desta ascensão quase meteórica?

Mais duas páginas:

Os pais não sabiam que jogava futebol
Adaptação a Coimbra, ídolos e o golo ao Benfica"

In MaisFutebol

4 comentários:

  1. Gostava de enviar uma grata saudação por terem relevado a merecido plano o grande Salim Cissé.

    Briosa para sempre

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  2. Obrigado caro amigo. Estamos cá para os elevar, para elevar a nossa Brisoa. Que haja mais oportunidades e iniciativas destas!

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  3. Sabe caro amigo (desculpe, mas não sei o seu nome)?
    Eu tive um ídolo de menino, de seu nome Rui Rodrigues, um enorme jogador que eu gostaria de ver homenageado um dia.
    Já vou nos quarenta e muitos de idade, portanto muito jovem, mas foram necessários outros qurenta e tais para encontrar um novo ídolo: Salim Cissé.
    Talvez seja o meu lado de criança que se mantém vivo...felizmente.
    Houve jogadores que me marcaram ao logo destes anos e muito: Vala, Costa, Dimas, Simões, Rocha, Dário, Filipe Teixeira e alguns outros.
    Mas nunca me esqueço de quando ainda menino encontrei o cromo do Rui Rodrigues e o colei imperial na caderneta.
    Acho que vou comprar a caderneta nesta época 2012-2013 e festejar quando encontrar a imagem do Salim Cissé.

    Um abraço.

    Briosa para sempre

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  4. Confesso que desconheço o seu primeiro ídolo, mas tenho grandes esperanças de que com o novo tal não aconteça nas gerações vindouras e que o mesmo seja, até por elas, conhecido.
    Além da qualidade de futebol, a reportagem que mostra a força que teve de ter para chegar até aqui, faz também com que devamos desejar-lhe sempre o melhor. O que desejo a todos os que envergam o losango.

    Daqui a pouco menos de uma hora pode ser que nos dê mais uma alegria. Académica!

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